Por Satish Kumar*
Ahimsa = A (não) + Himsa (violência)
Gandhi viveu o ahimsa como uma prática diária, promovendo a paz como meio de interromper a guerra e a violência. Em toda sua vida, sua “experiência” com a verdade provou que a força da verdade é mais poderosa do que a força bruta.
O Ahimsa revela formas de paz para muito além da mera ausência da guerra. Para Gandhi, a paz significa caminhar com verdade e justiça, paciência e compaixão, coragem e gentileza. O Ahimsa promove ativamente o bem-estar universal e encoraja o florescimento de tudo o que é vivo, e não apenas os seres humanos. É a arte de viver no presente e abrir nossa imaginação para uma boa vida para todos.
Gandhi nos oferece quatro pilares de sustentação para o Ahimsa.
SARVODAYA
Justiça para todas as criaturas
Este é o principal pilar da filosofia de Gandhi: a prática de justiça econômica, política e moral. Todas as criaturas são incluídas na busca por bem-estar universal. Todos podem dividir a abundância ofertada pela Mãe Terra.
Sarvodaya significa o fim da injustiça e da fome. Existe o suficiente para as necessidades de todos os seres humanos e não existe o suficiente para a ambição de nem mesmo uma pessoa. Sociedades e comunidades baseadas no Sarvodaya garantem que todos possam desfrutar a dignidade de dividir suas habilidades e talentos.
O Sarvodaya serve para nos lembrar, a cada momento, de toda a nossa família Terra – interdependente, interconectada entre todas as pessoas.
SWARAJ
Auto-governança
As ideias de auto-governança de Gandhi celebram a liberdade gerada pela auto-disciplina que é necessária no Sarvodaya. O Swaraj demanda o poder máximo para a auto-organização e a auto-governança das pessoas no contexto de suas famílias, sua vizinhança, seus vilarejos, e biorregiões, com a mínima intervenção de governos nacionais. Nós assumimos total responsabilidade sobre nosso próprio comportamento e sobre nossas decisões, tomadas com os outros, e sobre como organizar nossas comunidades.
O Swaraj realiza a liberdade pessoal sobre a pobreza e todas as formas de dominação. Ninguém comanda os outros, e nenhum estado impõe suas leis sem o livre consentimento dos governados. Mais do que os direitos humanos, o Swaraj busca também os deveres humanos: para a Mãe Terra e para os vizinhos, próximos ou distantes.
SWADESHI
O talento do que é local
No âmago do Swadeshi está o ato de honrar e celebrar a economia local, com as pessoas desfrutando seu sustento a partir dos presentes oferecidos pelos recursos naturais e suas próprias biorregiões. O trabalho de cada local, conduzido a partir dos talentos e conhecimentos locais, gera um excedente para ser dividido com os outros. Swadeshi é a economia centrada nas pessoas – a alma de “Small is Beautiful”**.
SATYAGRAHA
Revolução Não-Violenta
A Satyagraha transforma de maneira radical os sistema econômico e político através da resistência não-violenta. Não busca impor ao agente da violência o seu próprio remédio. Ao contrário, transforma o inimigo em amigo, e a intolerância em hospitalidade. Satyagraha nos encoraja a ter pelos estranhos a mesma compaixão que temos pelos familiares.
Os Satyagrahis se recusam a obedecer a leis injustas, e voluntariamente aceita o sofrimento decorrente dessa medida. É um chamado para pacientes, contínuas e pequenas ações tomadas por homens e mulheres comuns em busca de uma vida mais decente. Eles produzem uma profunda e radical transformação a revolução cataclísmica que frequentemente impõe sus próprias estruturas violentas de poder.
Os Satyagrahis buscam viver a harmonia entre pensamento, discurso e ação. Eles cumprem o que dizem. Resistindo ativamente à opressão, os Satyagrahis reconhecem que se pode morrer por alguma coisa, mas não se matar por nada nem ninguém.
* Tradução de Leandro Uchoas
** Referência ao raciocínio central do livro “Small is Beautiful”, de E. F. Schumacher, traduzido para o português como “O Negócio é Ser Pequeno”.